Dona da Porrah Toda

"Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual, eu do meu lado aprendendo a ser louco, maluco total, na loucura real..."

UMA BRASTEMP CEREJA NUMA ÁREA DE SERVIÇO TODA BRANCA


"Você é o único (a) gordinho de uma família de atletas malhadores ou magros de ruim e não passa um só dia sem ser achovalhado (a) por isso...você é metalhead (vulgo metaleiro (a)) ou tem um gosto diferente, gosta de coisas contraditórias a cultura da sociedade e tem predileção pelo que a maioria das pessoas acha bizarro... você não é uma pessoa comum, seu cabelo assusta, suas roupas assustam, sua presença assusta pela autenticidade do seu estilo de vestir e quase sempre tem alguém tentando fazer você se sentir deslocado (a)..."

Deslocada, taí uma palavra que sempre quis ser minha amiga na vida mas nunca teve chances...o que não quer dizer que nunca me senti assim, muito pelo contrário, se sentir deslocada é algo que sempre esteve presente na minha vida porque eu tenho todas as contradições do mundo para isso: sou a única gorda de um clã familiar inteiro de magros de ruim e mesmo os que tem tendência pra gordura passam a vida toda se policiando nisso e me olham com um certo ódio por eu não ter me adequado ao sistema passa fome deles, o que me dá de troco quase sempre olhares repressivos quando estou comendo ou associações e piadinhas, porém nunca tiveram ação na minha vida, mesmo tendo sido obrigada a fazer dieta na epoca em que ainda não me consideravam gente, deixava claro que aquilo nao faria diferença na minha vida, aliás diferente, diferença são outras palavras que posso chamar de minha.

Eu sempre fui diferente e sempre quiseram me "causar" por isso. Diferente por ser gorda, diferente por não ter o mesmo gosto patético musical, não torcer para o mesmo time da família, não ser a garota que amava rosa e muito menos a moça de família que acatava tudo direitinho e dizia sempre sim papai, sim mamãe. Eu crescí ovelha dark mesmo não tendo sido até hoje de fato uma pessoa má, sempre fui um ponto negro destacado em todo montinho branco que aparecia, eu sempre fui assim e por um tempo, com toda modernidade do século isso passou a não fazer tanta diferença entre outras pessoas, porque de repente o mundo evoluíu e as pessoas começaram a tomar consciência de que normal é ser mesmo diferente e por um bom tempo eu cheguei até a esquecer de que minha diferença era motivo de olhares, apreensão e estranheza.

Isso foi até eu me mudar para um bairro onde ando revivendo o passado. É engraçado porque os habitantes daqui não são em sua maioria pessoas do velho mundo (leia-se aqui velhos mascadores de fumo e enroladores de cigarro de palha, senhorinhas feudais propriedades de senhores feudais que teimam em tratá-las como objetos de cama, mesa e banho), idosos para ainda conservarem pensamentos preconceituosos e manterem uma cultura tão antiga com tudo que é diferente e foge ao que seguem. Eu já disse a vocês que moro num bairro onde espantosamente todo mundo é crente (quis dizer crente mesmo, remetendo a figura clássica e antiga daqueles fiéis obececados que para tudo elegem ou melhor heregem o nome do cristo que devotam, porque não tem coragem de dizer o que pensam assinando o próprio nome e passam a devotar ao diabo qualquer coisa que fuja ao que determinam como "obra de deus") e minha presença aqui tem causado incômodo.

É estranho porque não sou o tipo de metalhead que passa o dia com maquiagem carregada e cara de "afaste-se" com correntes, piercing's, tatuagens de caveira ou qualquer coisa do tipo. Fora as tatoos normalzinhas que tenho a única coisa que tenho de diferente agora é a metade do cabelo descolorida pelas luzes californianas que fiz, no resto uma mulher normal, com roupa normal, chinelo de dedo e que apesar de ter sido mãe com 28 anos, conserva um jeito de quem foi mãe cedo por não ter cara de mãe, talvez pelo comportamento ou trato com o filho que pela descontração lembra mais uma relação de irmão caçula. E fora os dias em que faço algum evento ou vou a algum show (que é quando me monto de fato no estilo metalhead) é isso que as pessoas da rua veem, uma mulher comum e normal. Então, porque da estranheza ? Porque do semblante preconceituoso por onde passo e a sensação de que sou o próprio demônio arrastando correntes pela rua por onde ando??? - Nessa hora você provavelmente irá imaginar que essa sensação pode ser fruto de algum encosto que deve estar me acompanhando ou sei lá o quê, mas não é uma sensação minha, é so uma percepção do que vejo no semblante deles.

Daí vem a constatação, são todos em sua maioria crentes de uma congregação evangelica antiga, assembléia de deus ou algo assim, não sei o nome, mas aquela, em que as mulheres não podem nada, não cortam cabelo, não isso, não aquilo e ser uma mulher que pode tudo, que faz tudo por aqui é ser uma aspas viva perambulante pela rua. Se eu fosse outro tipo de pessoa já teria cedido a pressão disfarçada do "não aceitamos você desse jeito por aqui" e talvez se eu fosse de fato agressiva como meu semblante transparece as vezes já teria "causado" com alguém por aqui e ganho mais que o título aparente de demônio arrastador de correntes da rua, do bairro. Mas eu sou o tipo de mulher que reverte conflitos, sei fazer da minha diferença uma segunda mordida na maçã e o que posso dizer disso??? - Simples, estou conseguindo fazer dos ressabios e estranhezas um "conheça para julgar" e aos poucos estou mostrando a todos por aqui que apesar do que a principio só conseguem enxergar, não sou um demônio que veio para cá arrastar minhas correntes pela rua trazendo ou como percebo "corrompendo" pessoas para o meu lado da vida (leia-se aqui abrindo os olhos do povo, fazendo eles se permitirem questionar com meu modo de ser e minhas opiniões constatativas), sou apenas eu, não mais um ponto negro num montinho branco como na juventude me imaginava, e sim, uma superatual, evolutiva e que tem muito a dizer Brastemp Cereja numa Área de Serviço Toda Branca!



PRONTO FALEI: E você, como se sente ?