Dona da Porrah Toda

"Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual, eu do meu lado aprendendo a ser louco, maluco total, na loucura real..."

OS ESQUECIDOS

Hoje pela manhã (manhã mesmo,entre 06:30 horas) estava com a t.v ligada e terminando mais uma encomenda de tricô (eu tenho essa mania de ligar a t.v e não olhar para ela, se meu namorido que vivi dizendo não ser dono da cemig me ver dizendo isso, ele me mata kk) quando parei para assistir mais uma matéria de jornal sobre a falta de mobilidade que os cadeirantes enfrentam no dia a dia.No caso a reportagem era sobre um vídeo que um cadeirante fez mostrando seu cotidiano e luta para conseguir chegar ao trabalho e foi foda!

A gente sabe que é foda. Se até para gente que não é cadeirante já é uma luta conseguir pegar um "bus" decente e com algum conforto, imagina quem depende e muito do querer e poder dos outros para conseguir sair para algum lugar. Quem mora em beagá (com obras por todo Brasil imagino que quem mora fora daqui anda vendo muito disso também) deve ter notado que não passa uma propaganda na t.v durante o dia sem ver aquelas propagandas da prefeitura ressaltando "as obras" quem vem fazendo em prol dos belo horizontinos (tá bom, acredito!) mas muito pouco se fala (aliás só ouço mesmo é o prefeito falar muito disso nas entrevistas e reportagens mas pouco faz do que fala ) sobre acessibilidade e mobilidade prática.

Eu digo pratica porque na minha cabeça pelo menos existem dois tipos de acessibilidade e mobilidade que o brasileiro reclama muito hoje em dia: a acessibilidade e mobilidade que o governo fala e a acessibilidade e mobilidade que o povo quer, mas fora as câmeras e propagandas pré eleitorais muito pouca coisa funciona.
As calçadas estão sempre esburacadas como as vias, as faixas de pedestres ou preferenciais sempre com pinturas gastas e sugerem que o respeito, a educação da população para os quesitos e o cumprimento do direito está igual a elas e a banalização do humano chega ao ápice de ouvirmos cada vez mais as coisas mais absurdas e gente concordando e achando normal sacanear o proximo que é diferente porque para eles aquele próximo não passa de um estorvo na sociedade. É o que acontece com idosos, grávidas e mães com crianças pequenas que ousam entrar no onibus nos horarios em que os mesmos estão lotados (e para essa classe os onibus estão sempre lotados porque as pessoas não respeitam os espaços reservados alegando ter mais direito que estes, seja por um motivo ou por outro e por isso fingem não ver, dormem ou criam todo tipo de transtorno e implicância para não se levantarem, até briga de tapas eu já ví por conta de algo que é de direito do outro), é o que acontece no transito onde um mata o outro porque um ou outro na cabeça de um ou de outro estava errado e é o que acontece com cadeirantes que tentam seguir com suas rotinas de vidas, trabalhando, estudando mas não conseguem porque são esquecidos alí entre o que é "norma"l e o que é deficiente, uma espécie de irmão do meio da sociedade, onde o irmão mais velho tem atenção da mãe porque é o que transmitírá aos outros o exemplo da responsabilidade e por isso tem direito as chaves de casa, dormir fora e chegar tarde e o mais novo também recebe atenção porque é visto eternamente como aquele que sempre vai necessitar de atenção, mas o do meio não, ele precisa se fazer visto, caso contrário será esquecido, ou melhor não será lembrado, porque uma mãe nunca esquece um filho, mas pode perfeitamente achar que a falta do brado retumbante é um sinal de que esta tudo bem e que ele funciona muito bem sozinho, quando na verdade não está (espero que tenham entendido minha metáfora kk).
Pra mim, na minha visão e opinião, cadeirantes são uma espécie de filhos do meio de uma deficiente sociedade que não enxerga na cadeira de rodas uma limitação de quem a usa, apenas um meio de locomoção e com isso não providencia melhorias e acessibilidade para aqueles que saem as ruas todos os dias seja para trabalhar, estudar ou mesmo andar atoa, afinal, são pessoas como outras quaisquer só que um degrau, um meio fio mais alto ou não, um elevador de onibus que não funciona, a falta de rampas, passarelas, sinalização adequada faz toda diferença na vida dessas pessoas, enquanto que para nós é apenas mais um trequinho cotidiano no qual a gente esbarra durante o dia.

As vezes estou parada nos pontos de "bus" da vida e fico olhando a cena e tentando entender o que passa na cabeça da pessoa...os motoristas de onibus principalmente (que claro, não tem nenhuma deficiência e provavelmente não deve ter nenhum parente ou consciencia do quanto é importante calma e compreenção nessa hora) não contribuem nem um pouco, nem por obrigação,  para que essas pessoas se sintam menos "incomodantes" do que normalmente são consideradas, seja por eles ou por exemplo, pelos passageiros que viajam dentro daquele coletivo.Xingam o cadeirante, reclamam de terem de manobrar o "bus" pela burrice de não terem parado próximo do meio fio para descida do elevador, quando ao chegarem no ponto viram perfeitamente o cadeirante dando sinal para embarque; ignoram o cadeirante no ponto pedindo para abrirem a porta do meio (que é onde geralmente ficam os elevadores) ou fazem pior, embarcam as pessoas ditas "normais" fazendo os cadeirantes acreditarem que serão levados e zarpam com o onibus como se não tivesse deixado nada para traz. Fala que ninguém que está lendo isto agora nunca viu qualquer cena dessas. E eu nem vou citar a COPA, para não dizerem que sou mais uma a criticar o governo num disparate desses quando a saúde "aqui jaz" e a extrutura "já Elvis" aqui ou em qualquer lugar do Brasil para receber um evento desses,só quero perguntar uma coisa aos belo horizontinos leitores daqui: alguém já foi no Independência pós reforma para copa? Viram por acaso algum elevador de cadeira de rodas, espaço reservado com visibilidade para alguém que não vai subir nas cadeiras, pintura de espaço no estacionamento, enfim, qualquer sinal de acessibilidade para algum tipo de deficiente? (se viram comentem porque eu reparo nessas coisas e não achei nada em lugar nenhum).

Nada do que falei aqui é novidade para ninguém, todo mundo todo dia vê isso mas agem na melhor conduta do "não é comigo" se limitando apenas na indignação falada e solidária que será esquecida logo que embarcarem no seu onibus e derem um tchaul de "fica bem" para o esquecido de fora, que ficará lá no ponto aguardando um cavalo branco mecanizado eficazmente no qual poderá montar suas rodas e viver feliz para sempre até dar o sinal de parada.
Ai vem você e me diz, mas o que eu poderia fazer, "não posso carregar as pessoas nas costas" ou "é o governo que tem de resolver", não é?

- Na verdade você pode carregar nas costas se quiser e tiver um preparo físico para isso rs mas vou ignorar minha ironia e ir direto ao assunto, ajude a reclamar. Não finja que não esta vendo ou que não tem nada a ver com isso ou ainda que nunca vai acontecer com você sei lá. Ligue para o orgão que fiscaliza os onibus, o transito, os pontos, sei lá, reclame em algum lugar...reclame até mesmo se o próprio ofendido não querer seguir em frente com a indignação e não querer mais reclamar, isto não é só por ele, é pelos que passam por isso e sozinhos tentam fazer algo mas não veem suas vozes ecoar, é pelos que já lutam por mudanças, é pelos que acreditaram naquela mentira de que algo ia ser feito e só não foi feito por não ter peso suficiente para causar, é por você que hoje, agora ao sair daqui ou mesmo algum dia pode se ver do mesmo jeito e não poder fazer muita coisa, dependendo de quem pode mais. E é justamente quando a gente não depende daquilo que a gente pode mais, que a gente tem mais força e é mais ouvido. Meu discursso pode ser demagogia ou barato ou mesmo fruto de uma mente "Che" de cabiceira de quarto, mas quando as pessoas botam a boca no mundo e não deixam aquilo esfriar é que elas conseguem as coisas.
Gente, o Brasil é um país de cegos, cadeirantes, deficientes eficientes que estudam, trabalham, andam por todo lado e não aguentam mais ficar sujeitos a ajuda quando já superaram até o improvável das limitações deles e é revoltante ver essa galera tão ativa que se vira como todo bom brasileiro sendo barrada porque um ou outro ignorante ou um governo que só os conta nos anos eleitorais não aceita o fato de que eles estão aí como nós e precisam ser ouvidos e atendidos para darem continuidade a sua independência e sua vida de forma normal; sem alardes, sem fazer de cada ato simples um evento onde são tratados como estorvos, a parte chata do super atual e necessario que ninguém quer resolver por achar que sempre dá mais trabalho consertar que fazer de novo.

PRONTO FALEI: Dizem que o sol brilha para todos, mas vira e mexe tem alguém querendo capitalizar a sombra.