Dona da Porrah Toda

"Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual, eu do meu lado aprendendo a ser louco, maluco total, na loucura real..."

Que porra (parte II)

LIBERDADE, MEU NOME


Eu lembro quando tinha liberdade, foi bem lá atrás antes de ter meu filho e acabar dependendo de favores de quem ajuda pensando em cobrar. É como fazer um pacto com o diabo, você sabe bem o que está fazendo, mas na hora do desespero acaba fazendo. Depois disso eu fui ficando cada vez mais escrava, dessas de mordaça e corrente, ví minha liberdade, o controle da minha vida ir embora e junto com ela a sensação de que cada vez mais, eu era menos eu.

Da simples permissão que dei aos meus ouvidos para ouvir uma merda ou outra, me mantendo calada ou colocando meu ponto de vista as vezes, passei a conviver com pessoas que só sabem falar mal dos outros, tripudiar, armar vingançinhas mediucres, inveja negra,entre outros sentimentos que só destroem o ser humano e não fiz nada contra isso. Fiz sim, ouvir cada vez mais e mais, sem controle, sem dizer agora chega, não sou disso, não aguento mais entre outras coisas. É difícil lidar com pessoas que tem essas falhas de carater e são próximas de você, porque você não perde o jeito de dizer não, e vai perdendo tudo ao longo do tempo e quando se olha no espelho você não se vê mais, e o que você vê? tudo que você repudia ? as mesmas desculpas que você se sujeitou ao aceitar que essas pessoas dominassem sua vida estampadas em você.

Eu vivi alguns anos de escravidão, ouvia coisas que eu nem queria porque não sabia como dizer "saia da minha casa com esse assunto", na verdade eu ouvia porque sabia que eu era a única pessoa que ouviria aquilo, ser amiga de quem não tem amigos, torna você um bicho acuado para sempre, ou pelo menos até você estourar. Eu tive até agora duas pessoas assim, muito próximas, muito queridas, gosto mesmo delas, uma eu amo, mas não aguento mais, estou tão acuada que logo que vejo meu coração se agunia, sinto as correntes me apertarem, a mordaça me machuca, me sufoca e o pouco que eu respiro não oxigena mais meu cérebro.

Eu não deixei as coisas chegarem nesse ponto, tudo foi sendo colocado para mim de uma forma que se eu não aceitasse talvez, as consequencias seriam piores. Eu senti medo, medo de perder, medo de ser mal interpretada pelos outros e de não saber lidar com isso;eu senti medo e ele nos acorrenta. Lidei com pessoas imaturas que não respeitam a vida, o espaço do outro e o que eu esperava com isso ? O que eu esperava que minha vida virasse ? o que eu queria afinal, mudar o mundo, as pessoas e achar que todo mundo aceitaria isso com um sorriso no rosto e agradecimentos no final ?

Achei que se enfrentasse as consequencias a essa altura da vida poderia viver novamente o inferno que já vivi na minha adolescencia, mas o que eu consegui, não foi o inferno de volta ? O que eu não percebí é que existem pessoas que de uma forma ou de outra nunca vão mudar, e não adianta você tentar, não é que elas não querem ou não podem mudar, esse é o prazer mórbido delas. O que a gente tem de fazer, talves, seja partir logo para as consequencias e não se permitir invadir pelo medo do que o outro possa vir a fazer. Se o que estas pessoas fizerem para corromper, manipular quem está a sua volta, fazendo todos o verem como vilão,então por mais que doer em você se ver como alguém que você não é,não se culpe, a culpa escravisa e faz você ser alguém pior do que quem te chantageia.

Eu aprendi duas coisas: a primeira é que você vira brinquedo nas mãos de pessoas assim, porque você passa a estar ali do lado delas, mas elas não estão do seu lado, apenas aguardam momentos tolos para jogar em você algo que você não é (muito provável e por experiencia propria posso dizer que o que dirão a você é o que ela é. É porque ela quer tanto que você seja como ela que começa a te julgar o quanto pode até você enlouquecer e aceitar isso como verdade).
A segunda coisa é que de um jeito ou de outro elas sempre acabarão fazendo aquilo que te fez sujeitar.Então aprendi que não faz sentido você acabar com sua vida por coisas assim,elas irão acontecer.

Hoje eu alcançei parte da minha liberdade, a minutos atras precisamente. Foi um sentimento bom e ruim.Me aproveitei de um momento de fúria para escapar. Na fúria eu conseguí quebrar uma de minhas correntes, a primeira coisa que fiz foi tirar a mordaça e gritar. Foi muito bom ouvir minha voz de novo e saber que não estava muda. Sinto um pouco de vida correndo novamente nos pulsos que antes estavam estraçalhados pelas algemas. Eu tinha medo de me libertar e não conseguir correr, mas eu corri e eu senti novamente o vento bater. Eu me deixei enlaçar, me deixei invadir, agredir, vigiar, porque é difícil as vezes amar. Eu quis proteger essas duas pessoas delas mesmas e de todos os inimigos com quem elas andam...mas eu não aguento mais, não quero mais voltar para essas correntes que só me machucavam. Não vou mais voltar, pelo menos não na condição de escrava. Acabou, quero o controle da minha vida de volta!